terça-feira, 22 de abril de 2008

A próxima fronteira


http://www.wired.com/medtech/health/magazine/16-05/ff_wozniak

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Pronto, pressuponho que você leu.
Eu tenho sentimentos ambíguos em relação a esta nova fronteira da revolução digital que parece estar ganhando espaço: a fronteira onde Google nos ajuda a encontrar lembranças perdidas nos "campos e nos vastos palácios da memória" (Santo Agostinho). A fronteira que, uma vez atravessada, irá nos fornecer uma prótese da memória, da capacidade de armazenar e recuperar dados.
As invenções do homem não passam, na sua grande maioria (se não na totalidade), de extensões de suas próprias capacidades naturais. O carro, o avião, o barco aumentam nossa capacidade natural de locomoção, as armas aumentam o poder de matar, o telescópio nos faz ver mais longe... Trata-se, de modo geral, de superar as restrições impostas pelas duas categorias transcendentais kantianas, o tempo e o espaço: o gramófono e suas derivações (até o I-pod) servem, como a fotografia, para driblar a restrição do tempo quanto aos instantes fugidios. A escrita é meio para perpetuar a palavra. A palavra... a palavra é caso diferente: essa é invenção que nos faz humanos, e duvido de listá-la como invenção.
O computador é uma muleta capaz de aumentar em muito a capacidade de cálculo, de armazenamento, de classificação de informações. Com um computador, uma conexão eficaz e um treino mínimo no uso do Google, qualquer mané dá de dez no mais erudito. Mas agora a promessa é que não precisaremos da interface da máquina ou, pelo menos, não do trabalhoso e falível método de armazenamento manual, asistemático, deliberado...
Será?
Se for, se trata de incorporar (literalmente, de colocar dentro do corpo: in-corpore) ou, melhor ainda, de inmentar um mecanismo comercial, artificial. Criar uma mediação de nós com nós mesmos. Mediatizou-se a conversa informal (chat, em inglês), isto é, o bate-papo entre amigos que se fazia de graça e sem tecnologia. parecia uma fronteira dificil de se superar. Parecía.
Então, eis os meus sentimentos ambíguos. De um lado, creio que isso tudo é conversa, que não dá, que é bobagem. Mas a discussão está acontecendo, e isso já é um dado para se levar em conta: me divido entre a incredulidade e o espanto pela possibilidade.
E, ainda no terreno dos sentimentos ambíguos, me divido entre o medo de uma nova dependência, de um novo meio de geração de lucro (e da conseqüente sujeição), e a fascinação por uma ferramenta tão poderosa.
Imagino como terá se sentido um indivíduo quando ouvia falar da possibilidade de que corpos mais pesados que o ar atravessem o mundo, carregando gente e mercadoria pelo globo afora...

2 comentários:

Secondo Tucci disse...

sem querer confundir, ou já querendo, por favor busque o pragmatismo da questão:
Sem caracterizar se bom ou ruim, se todo o conhecimento chegar a todos e de forma tão farta ("um bom mané manejando o google...") passaria a ter valor a ignorância? De outra forma: o cara absolutamente desconectado valeria mais, seria mais "único" e por conseqüência mais valioso? Um sem e-mail? Um GoogleLess? Abraços do Edson

andres bruzzone disse...

É um ótimo ponto! Usando a imagem do carro como ferramenta capaz de aumentar as capacidade (naturais) de locomoção, o cara que viaja a pé é o diferente. Ou o que corre maratona...
De um outro ponto de vista, com Google não preciso saber tanto quanto entender. A inteligência por sobre a memória. Será?